Eu
tinha acabado de realizar meu maior e mais importante sonho até aquele
momento... sabia que passaria a pedalar a partir de então, tinha até comprado
uma bike, mas meio sem saber direito o que responder e um pouco inspirado nas
histórias de travessias do Amyr Klink entre outros relatos de viagens, disse
que iria do Atlântico ao Pacífico de bike. Obviamente ele assustou!
Sem
uma rota definida, coloquei essa ideia em minha mente... nas divagações e
vislumbres da época, pensei até em um Ciclomercosul, já que estava
desempregado... eram meros devaneios, inviáveis de se concretizarem.
No
feriado prolongado de Corpos Crist de 2008, fiz minha primeira ciclo-viagem e
gostei do negócio, era o Caminho do Sol. Nessa época havia lido e assistido sobre
as viagens da Família Schurmann, onde a Heloísa dizia que para uma grande
viagem, o primeiro passo seria marcar a data de saída. Marquei para 8/11/2008 a
saída da tal “Expedição do Atlântico ao Pacífico”.
Não
tive tanta determinação quanto àquela família. Não cumpri minha parte, cheio de
contas a pagar, ao menos essa foi a desculpa que usei para mim mesmo na época.
Na verdade eu estava com um p*ta medo.
Quando
marquei a data da saída, contei 30 dias de férias, o trajeto inicial seria de
Montevidéu, ou Buenos Aires, subindo em direção à Mendonza, Paso Cristo
Rendentor, Santiago, Valparaíso no Pacífico. São mais de 1700 km.
Era
utopia viajar da maneira que gosto (lentamente), um trajeto desses. Uma
solução, baixar um pouco no mapa da América do Sul, quanto mais ao Sul, menor a
distância entre os oceanos, mas também não precisaria ser lá na Terra do Fogo.
Foi
durante esse ano de 2008 que surgiu a ideia de cruzar a Região do Chubut na
Argentina, saindo da Península Valdéz, encarando o Deserto do Chubut, Cruzando
os Andes até o Pacífico.
Comecei
a estudar e traçar essa ideia e me acovardei. Não me senti preparado. Posterguei
minhas férias de novembro para Janeiro de 2009 e fiz o lindo e difícil Caminho
da Fé.
Voltei
com mais confiança, e em 21 de julho de 2009 retomei o Projeto da Patagônia. A
data de saída mais prudente, fins de 2010, início de 2011. O verão.
Em
meio à confecção do projeto, certo dia, li ou ouvi em algum lugar dos ventos da
Patagônia. Tive um gelo. Pesquisei, pesquisei e finalmente achei um mapa da
Marinha Argentina. Meu projeto estava acabado. Eu teria que pedalar subindo
rumo aos Andes e pior, contra o vento. Abortei o projeto.
Em
2010, fiz outro Caminho de Santiago, cumprindo duas autopromessas a mim mesmo:
de fazer o Caminho novamente, de bike e de fazer o Caminho Português. Uma
experiência muito rica para confecção de Projetos de viagens, execução e
solução de problemas não previstos. O episódio da garupa quebrada em Coimbra,
onde sem motivos me desesperei, com várias soluções da civilização foi uma
lição clara de que realmente não estava preparado para a Patagônia.
Em
2011 eu voltaria a estudar formalmente após longos 9 anos de estudos
alternativos. Sempre estudei e pesquisei, mas precisava investir um pouco na
carreira normal, a financiadora de todos os outros sonhos e fui fazer uma
pós-graduação em Controladoria e Finanças.
Antes
porém, fiz mais uma ciclo-viagem, onde aumentei as dificuldades, era um
circuito com apenas uma parte de infraestrutura para cicloturismo, o Caminho
das Missões, já a parte Paraguaia e Argentina, seria no estilo Expedição,
apesar de estar o tempo todo perto da civilização e de água. Tive que projetar
todo o trajeto, descobrir o que ver, onde dormir, onde cruzar os Rios,
alfândegas, etc. Descobrir os problemas com caixas eletrônicos, ficar em paz
com problemas na bike, a garupa novamente, dessa vez a dianteira, mas dessa vez
apareceu “La Solución”.
Ainda
em 2011, no dia 17 de outubro, tive uma ideia de como salvar meu desejo de
viagem entre um Oceano e outro. Ao invés de remar contra a maré, iria descer a
favor do vento. Agora iria do Pacífico ao Atlântico, previsão de saída para Novembro
de 2012 ou Fevereiro de 2013.
Contas
a pagar, reforma da casa e problemas na Pós inviabilizaram o projeto para
Novembro, já no final de 2012 não pretendia fazer a viagem em Fevereiro de
2013, no lugar seria feito o Caminho do Sol ou da Luz com o Mateus, cogitei até
mesmo o Caminho da Fé com ele. Não fizemos nenhum deles.
Em
seguida lesionei o menisco do joelho esquerdo. Problemas com o convênio. Operei
em Julho de 2013. A recuperação foi rápida e em Outubro de 2013 já tive a boa
notícia de poder voltar a treinar a partir de novembro de 2013. Foi um excelente
trabalho do Dr. Rodrigo, meu brother e do pessoal da Fisioterapia Cajamar, o
Eder, o Éric e a Kelly.
Nesse
ano fiz um Curso de Gerenciamento de Projetos visando tanto no âmbito
profissional quando no das Expedições. O curso foi excelente, mesmo quando mais
amador, não estava muito longe do que diz a ciência dos Projetos.
Dia
15 de outubro, retomei o projeto. Convidei alguns amigos para ir junto, mas no
final sobrou só eu mesmo. Mesmo numa viagem “só”, não me sinto solitário.
Sempre existem pessoas boas pelo caminho! Gosto de ouvir e sentir as
curiosidades do povo dos lugares por onde passo. Do modo simples de ser e viver
de do orgulho que sentem de suas terras, de suas reclamações também.
Falei
com o Marcos Paulo, meu chefe e fechamos que minhas férias serão em fevereiro
de 2014 e que farei plantão durante as férias coletivas. Comprei as passagens.
Bem
agora vamos falar um pouco desse tal Projeto:
EXPEDIÇÃO
PATAGÔNIA NORTE – DO PACÍFICO AO ATLÂNTICO
HOJE
SÓ FALTAM 33 DIAS PARA A VIAGEM!
Partirei
em 1º de fevereiro de 2014, serão mais de 1300 km de Pedal!
Durante o Percurso terei as seguintes brincadeiras:
- o Pacífico (primeira vez);
- percorrer um trecho da
mítica Carretera Austral;
- visão dos Andes nevados;
- visão de Vulcões;
- lagos Chilenos (dizem que
tem cor azul-turquesa);
- subida dos Andes;
- conhecer um pouco mais da história do povo Mapuche;
- lagos andinos
Argentinos;
- pequeno trecho da também
mítica Ruta 40 argentina;
- Vale do Rio Chubut, ao lado
de Canyons esculpidos pela água e pelo vento, repleto de sítios
arqueológicos;
- salinas (El Molle);
- Maior desafio será o
deserto do Chubut: serão quase 400 km e três pequenas cidades através de
estradas não muito movimentadas por carros, cuidar da casa (barraca), da comida,
da água, da saúde, da mente... aqui as noites devem ser muito bem estreladas,
sonho muito com esse local não turístico!;
- finalmente: o Atlântico;
Por ultimo a Península Valdéz (300 e poucos km) de 4 à 5 dias. Atrações do local:
- diversidade muito rica, baleias, golfinhos, pinguineiras, focas, leões marinhos, lobos marinhos, salinas, mar gelado. A Península é a cereja do bolo.