quinta-feira, 10 de março de 2011

Missões Jesuítas em Terra Brasilis

Mais uma balsa me transportou de um país para o outro, mas dessa vez era para o meu país. Já cruzei outras fronteiras antes, mas essa tinha um sabor especial, no alto da alfândega tinha um enorme: "BEM VINDO AO BRASIL".
Cidades irmãs (ou hermanas) San Javier, na Argentina e Porto Xavier, no Brasil, são facilmente unidas pela balsa que cruza o Rio Uruguai. Nessa balsa cruzam até caminhões.
Engraçado reparar, como apenas uma simples fronteira provoca tantas mudanças rapidamente. O celular funcionando normalmente, botecos abertos, salgadinhos envelhecidos nas vitrines, acostamentos largos, maior circulação de veículos, etc., sem falar na língua. Mas foi justamente o problema da língua que mais me impressionou.
Em Porto Xavier fui pedir informações para um capiau e demorei para entender que língua ele falava, mas pasmei quando percebi que era Português mesmo. Ele tinha uma fala entrecortada cheia de caras e bocas que mais me lembrou o estereótipo do Mineiro, não Gaúcho. Consegui entender e sua informação foi muito útil.
Comi um "X", lanche que parece um beirute, servido no prato. Abasteci de água e fui para estrada.
Segui na BR-392, foram 17 km de uma longa subida e uma descida de 3 km até ver a sinalização: Pirapó 11 km!


Mar de soja à caminho de Pirapó e São Nicolau.


Era uma estradinha de terra em meio à plantação de soja. Com subidas e descidas leves. O problema foi que faltava água para reabastecer. Os três litros e meio que tinha não foi o suficiente frente o calor que fazia. Estava a apenas 4 km da cidade, pouco antes de cruzar o Rio Ijuí de balsa, quando a água acabou. Assim que acabou a sede começou a atacar. A cidade não estava tão longe, mas o sol inclemente fez a viagem parecer mais longa. Cheguei ao portal da cidade e pedalei mais um quilômetro para achar um restaurante aberto naquele domingo de sol. Achei. Tomei um litro e meio de água e abasteci meu estoque.
Faltavam 20 km até o destino final daquele dia. Nesse trecho pude curtir mais a paisagem, andando no meio da estrada, curtindo o verde mar ondulante de soja, que me lembraram as canas do Caminho do Sol e os trigais do Caminho de Santiago. Uma gostosa sensação de "pequinês" diante daquela imensidão que me encontrava.
Ainda era dia quando cheguei ao calçamento de pedra vermelha das ruas de São Nicolau. Cidade pequena e receptiva.
Após uma pequena atrapalhada para achar o Hotel, me estabeleci, tomei banho e fui ver as Ruínas mais livre de todas, está exposta em praça pública. Muito danificada na verdade. Seu destaque é o resto de ornamentado piso original.


Ruínas em praça pública - São Nicolau - RS

De Encarnación, no Paraguai até ali foram 291 km sem infra-estrutura de Caminho. A partir do dia seguinte eu estaria percorrendo uma trecho com estrutura peregrina, o Caminho das Missões, mais 170 km em três dias. Caminho que vai de São Nicolau até Santo Ângelo, passando por São Luiz Gonzaga e São Miguel das Missões.

Motivado, pois começaria o novo Caminho, desde o início, por terra. Afoito, esqueci de comprar algo para comer no trajeto.
Logo no início, pneu furado. Relutei, relutei, não teve jeito, tive que tirar toda a bagagem e arrumar o pneu na estrada, em meio ao mar de soja. Quando terminei, a fome estava gritando. Pedalei uns 11 km até encontrar a casa da Dona Irene, uma senhora muito simpática que junto com seu filho Rodrigo me atenderam super-bem, foi um oásis.
Enquanto almoçava, a chuva desabava lá fora. O tempo mudou muito.


Caminho Bonito, mas logo isso virou uma lama.


Por falar em chuva, antes de parar para comer, eu via as nuvens se desmanchando ao longe, em várias direções, ela até que demorou para chegar. Mas quando veio, casou-se com a poeira e deram a luz a uma filha porreta, a LAMA. Como tinha lama nesse percurso.

Lama.
Lama.
Muita lama. Lama pegajosa.

Eu andava dois metros e parava para tirar a lama do freio (v-break), do pneu, dos câmbios, da corrente. Era tanta lama que começou querer invadir meu ânimo e por pouco não entrou em minha Alma. Foram 4,5 km de lama em uma hora e meia de empurra, arrasta bike. Para ter uma idéia, caminhamos a passos normais 4 km por hora, eu de bike estava a 3 km/h. Terra Brasilis...

Estava receoso de chegar a São Luiz Gonzaga, pois desde a Argentina tinha notícias de epidemia de dengue por lá. Mas na hora (nove da noite) e no estado que cheguei à cidade, nem me lembrei do mosquito.

Cambaleando, empurrando a Bikona, me aproximei do Hotel Ipê e para minha surpresa:
- O Seu Cleber, o senhor fez boa viagem!? Nossa, você deve estar cansado. Vamos entra.
Eles já me esperavam e o atendimento que a Lemara e o Adelar prestaram a mim foi revigorante. Para completar, tomei um banho demorado. O caldo vermelho de lama não parava de cair do corpo.
Fui jantar no Malaguetta e me dei ao luxo de pedir um Salmão Grelhado com molho cremoso. Excelente e com preço justo!
No outro dia, pedalei até um posto de combustível na saída da cidade. Lavei a bike, tirei a lamaceira que tinha, lubrifiquei e decidi não ir por terra hoje. Voltei para a BR. Agora a BR-285.


O resultado do dia anterior, antes de lavá-la no Posto.

A paisagem quase monótona. Subidas e descidas constantes, mas com determinação, foco, chegaria à meta do dia. O acostamento dessa BR era bom, porém nas subidas longas ele desaparecia e ficava perigoso, o jeito era subir rápido. É bom ter um incentivo desses para subir, RSS... Incentivo de carretas a mais de 100 km/h passando a um metro e meio de mim.


Maluco de BR

Pedalei por 40 km e cheguei à entrada de São Miguel das Missões. Teria mais 16 km de estrada vicinal, mas em minha cabeça, eu achava que já tinha chegado e comecei a vacilar, pedalando rápido na descida, no meio da estrada.
Não era minha hora.
O motorista do caminhão foi muito ligeiro, não buzinou, apenas desviou. Se buzinasse, provavelmente eu assustaria e poderia cair na frente dele. “Sorte” que não haviam carros vindo na outra mão. Dessa vez foi por pouco. Depois de ver o caminhão passando todo torto parei no acostamento pasmado. Reorganizando meus pensamentos enquanto não parava de tremer.

Cheguei em São Miguel, fui até a Pousada das Missões. Que pousada. Tudo muito limpo, organizado e bonito. O quarto que fiquei era coletivo, como nos albergues do Caminho de Santiago, mas eu estava sozinho nele.
O Bistrô Tembiu (da Pousada) é excelente e barato. Comi uma Paella de frango e uma Polar de garrafa por R$ 19. Um detalhe curioso são as lembranças turísticas que um dos donos da pousada deixa exposto. São tantos lugares...
Em São Miguel tem um espetáculo de Som e Luz, que há mais de trinta anos é apresentado diariamente nas Ruínas. Fui até lá para conferir. Tendo em vista o pioneirismo do show, valeu a pena. Há uma arquibancada onde ficamos sentados vendo e ouvindo as luzes e sons que brilhavam e ecoavam no Patrimônio Mundial da Humanidade.
Voltando a falar da Pousada, fui tomar um “Senhor café da manhã”, o melhor de toda viagem. Conversando com um casal, elogiei a Pousada e disse que tinha o Padrão das outros Hostels que havia pousado em Portugal. Nesse momento um senhor, que também estava no café, entrou na conversa. Disse que já tinha visitado os Hostels de Lisboa também quando fez o Caminho de Santiago, era um peregrino. Aliás, era o dono da pousada, o donos dos souvenires do Bistrô. Seu Carlos fez sua dissertação de mestrado sobre o Caminho das Missões. O papo foi muito interessante. Só terminou quando tiramos fotos na porta de entrada, pouco antes de eu partir para o último dia de Caminho das Missões. Via asfalto, claro.

Estava uma garoa fina, sai assim mesmo, dei uma outra passada nas Ruínas mais bem conservadas de todas as Missões. Vi duas índias, mãe e filhinha. Conversei com um grupo de jovens gaúchos, que faziam um mochilão pelo Estado e fui pedalar os 16 km até a BR.


Ruínas de São Miguel das Missões - Patrimônio Mundial da Humanidade no Brasil - Unesco

Nesse trecho, foi interessante que um ciclista local, me passou e deu uma risadinha. A pesar de estar com uns vinte e sete quilos de bagagem, eu precisava de um motivo para acelerar o pedal. Decidi buscá-lo. Não durou duas subidas, antes de eu passá-lo ele forçava desesperadamente seu pedal. Olhava para trás, me via chegando, chegando, chegando. Depois, sumindo, sumindo, sumindo à frente dele. Foi legal ter uma “competiçãozinha” para aquecer.
Assim que cheguei na BR, parei no posto de combustíveis e almocei. O trecho de BR era parecido com o dia anterior. Os acostamentos de BR´s tem suas peculiaridades, nesse trecho, observava as pequenas flores que nascem ao longo do caminho. Há uma variedade muito grande.
Cortei caminho, passando por dentro de Entreijuis e finalmente vi um Belo monumento à entrada de Santo Ângelo, uma Pirâmide por completar Perfeitamente ornamentada. Pedi ajuda a um providencial transeunte e tirei a foto de chegada à cidade.


Entrada Sul de Santo Ângelo - RS

Na cidade, me “perdi” e acabei encontrando o Banco que buscava e depois fui recebido pelo Cláudio, à frente da Catedral Angelopolitana.
A estrutura e a gentileza dos organizadores do Caminho das Missões foi formidável. Obrigado: Cláudio, Romaldo e Estelamaris. Muito obrigado, um dia voltarei para fazê-lo a pé!
Fui jantar na Pizzaria Água na Boca, além de ótimas pizzas e cerveja gelada, têm uma decoração com riquezas locais, com relíquias e arte que a Leila me permitiu ver de perto.

Fim de role. No total foram 480 km, num total de 8 dias de pedal + um dia de pedal em Assunción.
Bora pra casa. Mais quase 23 horas de ônibus e cheguei em Jundiaí. Eu pretendia ir de lá até em Casa pedalando, seriam “só” mais 25 km. Com apenas dois quilômetros o bagageiro dianteiro quebrou novamente.
Solução, chamei minha irmã: – Nega, vem me buscar. Logo ela apareceu com o carro e me resgatou.
Na subida de casa e encontrei os amigos Roger e Gerson, trocamos umas ligeiras palavras e...
Lar doce lar.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Misiones Argentinas

Como disse no post anterior o El Jesuíta de San Ignácio Mini tinha um clima diferente. Tudo muito simples e rústico, mas de profissionalismo e cordialidade incríveis.
Com o problema da bike e algumas dores no corpo, decidi ficar um dia naquela cidade para sanar os problemas da bike e corpo, entre outros afazeres domésticos, como lavar roupas.

No dia seguinte fui procurar uma solução para o bagageiro dianteiro, ou um novo, primeira opção ou a solda. Na própria rua San Martin tinha uma oficina de bike, nada; na loja de bicicletas e casa de construção, nada; outra loja desse tipo, nada. Voltei ao albergue, peguei a bike e mostrei o problema para o tal mecânico e ele me indicou o Willy que solda alumínio. A princípio duvidei.

Fui lá, bem na hora da siesta e não fui muito bem recebido, tinha de voltar as três. Era o jeito.
Três e dez eu estava lá. O senhor de meia idade que antes me recebera sem camisa e me "disse" para voltar depois, agora era outra pessoa. De jaleco azul examinou o bagageiro e disse que tinha jeito sim.

Em uma hora e meia de papo e soldas, o bagageiro estava bom de novo. O Willy, na verdade é o pai do Otto (o soldador), que segundo seu filho, foi ele que criou a própria máquina de solda em 1966. O Pioneiro na Argentina, porém carente de registros. Inclusive a máquina que utilizou é completamente artesanal.

Bem achar um soldador de alumínio em uma pequena cidade foi bem mais que providência divina. Coisas assim nos dão motivação, como se fosse a voz dos parentes e amigos dizendo - É isso cara, vamo lá. Não desiste, não. Vai dar certo, força! O nome da oficina é bem apropriado: La Solución!

As ruínas de San Ignacio Mini não são tão grandes, ou preservadas como a de Trinidad (Paraguai), mas tem uma infra-estrutura turística a nos ensinar. Audio-guias em Espanhol, Inglês, Francês, Alemão e Português.


Ruínas de San Ignácio Mini - Argentina

A noite, fui visitar o espetáculo de Imagem e Som. Antes da viagem eu havia lido um pouco sobre as missões, vi o filme A Missão. Mas ali, naquele show em meio as ruínas, sob a lua cheia de fevereiro, pude sentir o drama Guarani.
O Show de Imagens projetadas em árvores, colunas de água e nas paredes das ruínas, unido a uma excelente qualidade de som, chegaram a emocionar seus visitantes.
Só para adiantar um pouco, com as imagens e sons, revivi o incêndio das Ruínas. Recomendo!


Uma parte do show noturno.

No final do ano, eu, meu irmão Lia e meu sobrinho Gabriel fomos comprar fogos em Louveira e na volta o Lia colocou o cd do Alan Jackson, e como sempre faz, contou a história dessa música, Thanks God for de Radio, que quando ele estava longe de casa o rádio lhe era o elo com seus familiares.
Ainda no El Jesuíta, consegui conexão e meu outro sobrinho, o Robertinho estava online. Disse a ele para avisar em casa e logo o Gabriel conectou e lá estava toda a família: o próprio Gabriel, a Mãe, a Nega, a Jaque, o Marcelo, a Noemi, a Mariele e a aniversariante do dia, a Letícia. Foi uma festa, me invejaram falando de costela no bafo e Skol, mas tudo bem. A Mãe estava um pouco tensa, era o meu segundo contato. O outro fora em Asunción.
Thanks God for the Internet!

No outro dia, acordei com uma Fiaca (preguiça) e sai super-tarde, 11:30. Além disso, parei num boteco para comprar água e comer alguma coisa, pois o café da manhã já tinha ido há tempos.
Pensando em poupar um pouco o bagageiro dianteiro, dos 6,5 kg que levava, tirei dois e meio e coloquei no bagageiro traseiro.
Estrada.
Mal entrei na estrada, uns 2 km e pá... quebrou a corrente. Mais uma vez, tranquilo por saber que era um problema ao meu alcance de solução, encostei a bike e substitui o elo que rompera.

Fui a Santa Ana, em ruínas mesmo e finalmente saí da Ruta 12 e peguei a Regional 3 e depois a 4, foram muitas subidas em degraus, a primeira foi uma imensa linha reta de subida ondulante de 5 km. O dia foi duro, mas administrável. Leandro N. Além, a cidade de destino ficou uns cinco quilômetros após a divisa do município.

Já noitinha, oito e pouco, vi uma das cenas mais lindas desse caminho. Parei, sem enxergar muita coisa, empurrava a bike pelo acostamento quando vi, entre os troncos de pinheiros a gigante lua cheia amarela. Linda. Lindíssima que a máquina fotográfica não conseguiu registrar mas estará para sempre nas retinas de minha memória.

De Leandro N. Além, continuei pela Regional 4, que deveria chamar-se Rodovia dos Botecos Fechados. De longe, você vê o bar, num calor recorde de 43 Graus, louco de vontade de tomar algo gelado, vai encostando, encostando, desse da bike, tira as luvas e o capacete e todo feliz olha para o bar e... fechado. Foram vários desses, com o tempo, nem me iludia mais. Via um buteco e já sabia, fechado. Foi assim até a entrada de San Javier, quando à 7 km de chegar vi um boteco aberto, tomei mais de um litro de refrigerante gelado.

A última cidade dentro da Argentina seria San Javier e para minha sorte, naquela noite teria Carnaval.

O Carnaval Argentino deveria chamar-se Festa do Brasil. Como o Saint Patrick Day nos EUA é uma festa à Irlanda, ali o carnaval é uma festa em homenagem ao Brasil.

Músicas brasileiras era quase cem por cento e sem distinções, música sertaneja ao ritmo de carnaval, o vira dos Mamonas com sotaque argentino. Enfim foi uma boa despedida da Argentina. Tinha até uma Escola de Samba chamada Sapucay, mas a pronúncia que era engraçada, parece que falam: sapo cai.

Na manhã seguinte, corri até a balsa, cruzei sem problemas o Rio Uruguai e vi a placa da aduana brasileira:
BEM VINDO AO BRASIL.


Cruzando o Rio Uruguai entre San Javier e Porto Xavier

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Misiones Paraguayas...

Chegar até Encarnación até que foi "fácil"...
Foram só Uma hora de carro, uma hora e meia de espera, 23,5 de São Paulo a Asunción, +24,5 em Asunción (um giro de 22km pela cidade, jogo do Cerro Porteño no Defensores del Chaco), +6 horinhas de ônibus e finalmente cheguei em Encarnación.

O "Comissário de Bordo" do omnibus, que em Asunción me cobrou G$ 30.000 (con descuento) para por a bike no bus, me perguntou:
- Todo listo?
- Si. Si.
- Adios(!?).

Por preguiça, pensei, não coloquei a bike no malabike. Apenas o usei para proteger a bike que foi encima de um pneu que estava no bagageiro.
Hora de arrumar a bike.
Sem apoio, ajuntei as traia de trás perto da traseira da bike, e as da frente perto da frente, beleza! (?)
Assim fui. Alforge traseiro (mochilas que vão ao lado da roda traseira): um velcro, outro, outro e outro. Uma, duas, três, quatro fitas. Segurando a bike com as pernas peguei o Top Bag (mochila que vai encima do bagageiro traseiro) e...
- Cadê o malabike? Putz, ficou no ônibus...

Me surpreendi com minha atitude, uma tranquilidade incrível.
Perguntei ao senhor que vendia Chipia (uma rosquinha parecida com pão de queijo com erva doce, muito bom) se o ônibus iria para alguma garagem e ele me disse que seguiria até Maria Auxiliadora (outra cidade) e que talvez voltasse ali perto da meia noite. Ele me indicou o quiosque da empresa de ônibus.
Fui até lá, falando em Espanhol com o atendente que fez uma cara de: "Coño, ahora me viene este con trabajo para mi."
Para demonstrar mais sua cordialidade, conversou com a tripulação do ônibus em Guarani e simplesmente me disse para esperar o ônibus na rotatória da Avenida Caballeros. "Y ya está!"
"Para Jesús nada es imposible" dizia um cartas atrás dele, acho que ele não leu.

Bem para quem achava que não tinha nada para fazer, a não ser curtir a cidade, que por sinal é muito agradável, achei muito o quê fazer:
- achar um mapa da cidade para encontrar a tal avenida;
- achar a tal rotatória na avenida;
- achar um lugar para dormir que aceite a bike;
- achar uma oficina de turismo para saber mais sobre as Missões.

Rodeando o Terminal para ver se achava a tal oficina de turismo, mesmo que fechada, vi um cara com a cara do Claudião de TI da Nexans. Pensei, deve ser gente boa, e era.
O cara simplesmente resolveu todos aqueles pseudo-problemas: me deu um mapa, arrumou um hotel bom, barato e que aceitava a bike, me deu informações sobre as Missões e ainda por cima, recuperou a capa da bike. Seu nome, Isidro. As 23:15 eu estava com o malabike nas mãos. Além disso, ele ainda me informou que eu teria que ir uma cidade além de Oligado para cruzar o rio futuramente.

Bom início! Do nada, um problema completamente meu, foi resolvido pela ajuda de várias pessoas que há horas atrás eu nem imaginava conhecer. Verdade, "nada es imposible".

Na manhã seguinte, 15 de fevereiro; encontrei e fui reconhecido por um brother; fui me despedir do Isidro e iniciei a Rota Jesuíta.
Antes de sair da cidade, quis visitar a Ponte Internacional São Roque Gonzales. No caminho fui abordado por Gino Miguel, um jornalista local que ficou interessado em saber por que estava com uma bicicleta toda carregada daquele jeito. Bem, valeu uma pequena entrevista, que ele disse sairia na Rádio local, FM 102.5 e num periódico semanário. Vixi, quando sai dali eu só faltava explodir de felicidade, realmente me sentindo por estar sendo notícia local, melhor, internacional.

Vi a tal ponte que mescla riqueza e esperança acima e pobreza e miséria embaixo, não bem embaixo da ponte, mas perto de sua base, pedalei por uma espécie de favela paraguaia. Perguntei de onde dava para ver melhor a ponte, me indicaram, tirei umas fotos, ninguém mexeu comigo. Pelo contrário: Buen viaje!

Hora de estrada, eu pretendia ir até Trinidad (30 km), de lá, ir e voltar a Jesús (+24 km). Quando sai da cidade já tinha pedalado 9 km dentro dela.

Entre Encarnación e Trinidad, pela Ruta 6, há muitas subidas e descidas leves, o asfalto é bom e o acostamento é largo.

No meio do caminho um policial me parou, acho que foi por pura curiosidade. Só me perguntou de onde vinha, para onde ia, da onde era, etc. Enquanto isso, motoristas sem cinto de segurança, motoqueiros sem capacete, passavam a vontade. Cuidam das formigas, mas os elefantes passam.

Finalmente Trinidad, era finalmente mesmo, não iria para Jesús naquele dia, o corpo de atleta (valeu Ronaldo), não me permitiu ir além.
Boa notícia, poderia acampar ali.
Descarreguei a bike.
Montei acampamento.
Fiz um almoço. Eram três e meia e estava faminto.
Fiz um suco que mãe mandou.
Hora de ver a primeira ruína. Queria tirar uma foto com a bike, não foi possível, um "educado" policial me disse: "Saca, saca, saca tu bicicleta de ai. Andale."
"Si. Si. Ya me voy." Respondi. Acho que meu rosto de felicidade o ofendeu. Desculpa ae.
Voltei, guardei a bike e subi de novo. Muito bonito. A antiga casa dos índios, nem tanto, mas a igreja principal é fantástica. Bem trabalhada. Mas ainda estava cansado. Não consegui curtir legal.
Desci, montei a rede, cochilei um bom tempo. Acordei, vi o sol baixando, baixando.
- Putz, vou subir agora para ver as Ruínas com as luzes do Por do Sol. Mais lindo ainda.


Redução Jesuíta de Trinidad - Paraguai

No outro dia, 16/02, acordei com a claridade do dia. Comi um pãozinho e dos 12, 11 eram de subidas em degraus. Sobe, sobe, sobe, desce um pouquinho, sobe, sobe, sobe... até Jesús. Lá encima algo na bike me incomodava, o alforge dianteiro estava pegando nos aros e pneu.

Tentei arrumar e resolvi visitar as ruínas de Jesús primeiro. Menos conservada que as de Trinidad. Fiquei pouco tempo ali, tinha muito chão para rodar nesse dia.
Resolvi o problema do alforge. Usei a aranha azul de motoqueiro que meu irmão Becão me deu.
A subida levou uma hora e a descida menos de quarenta minutos.

Um problema que tive em Trinidad, não havia Cajero (Caixa Eletrônico). Talvez haveria um em Hohenau.
Nada feito.
Agora em Obligado, uma cidadezinha à margem da rodovia.
Um menino de doze anos, o Brendo me levou a um banco, Não tinha cajero neste banco, voltei a cidade e finalmente achei o cajero. Estava quase sem nada, mas um quase sem nada o suficiente para cruzar a fronteira.

Para cruzar a fronteira teria que ir até Bella Vista e de lá pegar uma longa avenida de 8,5 km, trilha sonora, EngHaw e quando tocou Parabólica, lembrei da Sara e senti saudades, Princesinha Sarabólica.

Finalmente o Porto, a Balsa, outra entrevista. Tô ficando importante.

Liberado no Paraguai, subi na Balsa para cruzar o Rio Paraná. Esse rio que tem águas lá da cachoeirinha da Placa, que foi para o Ribeirão das Lavras, que virou Rio Juqueri-Mirim, que virou Tiete, que cruzou o Estado de São Paulo para virar Rio Paraná. O mesmo que estou levando apenas 8 minutos para cruzar de balsa.

Argentina, no problems para ingressar.

Saída da fronteira, 3 km de subida de terra., primeiro pueblo, Corpus, pela primeira vez me ofereceram o Terêrê, Mate com água gelada.

De Corpus, pela Regional 6 fui até a "Ruta" 12 (oh... estradinha ruim), o asfalto uma lástima, sem acostamento pavimentado, que as vezes era de pedra, outras vezes terra, depois era só mato mesmo.

Conclusão aumentou trepidação e ouvi um barulhinho estranho, que me lembrou Coimbra. Dito e feio era barulho de aluminio no pneu. O bagageiro dianteiro quebrou, na verdade soltou as soldas. Desespero? Que nada.
Tranqüilo. Na verdade, resignado. Arrumei a bagagem no bagageiro traseiro e o Top Bag virou mochila nas minhas costas e simbora. San Ignácio estava logo ali. Esse logo ali, foi cansando e cheguei a me perguntar: quê que eu estou fazendo aqui? Ainda não achei a resposta, acho que essa deve ser a graça disso tudo. Não saber o que está fazendo, apenas estar fazendo.

Mais uma subida e desisti de seguir pedalando, empurrei. Olhá que só faltavam 500 metros para a entrada da cidade e eu não sabia, Subi empurrando os últimos metros dos mais de 77 km que fiz nesse dia.

Queria uma cama para dormir, cheguei no albergue & camping e não havia quartos, mas o clima do El Jesuita eera tão bom que fiquei ali mesmo. Montei barraca, tomei um bom banho e estava refeita minha dignidade.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Paraguai, Argentina e Rio Grande do Sul - Brasil - Missões Jesuítas by BiKona

A primeira vez que ouvi a palavra Missão, claro que foi no filme do Rambo, que quando pequeno, era fissurado.

Mas sobre as Missões Jesuítas, por falta de cultura só fui prestar um pouco de atenção, quando estava fazendo o Caminho de Santiago em 2006.
Nesse Caminho, que fiz a pé, andei bem uma semana sem encontrar brasileiros, mas em Puente La Reina eu encontrei três de uma vez, o Eris (Peregrino que fez a pé de Roma até Fátima uns 3500 km), o Nelson e a Carmem.
Certo dia, estávamos numa Plaza de Estella, quando observei que a camisa do Nelson era do Caminho das Missões, achei bem legal a história que ele contou.
Bem guardei esse sonho de Caminho na gaveta.

Em novembro passado, sem poder pedalar ou correr, estava quase ficando louco.
No dia de finados resolvi fazer uma caminhada, que chamo de Circo-Ponunduva, são 25 km de bons ares, paisagens, subidas e descidas. Nesse dia, veio a tona a probabilidade de fazer o Caminho das Missões em 2011. Dia 4, esbocei um Plano de viagem e logo me desmotivei, mas arquivei o que tinha feito.

Decidido a voltar a estudar depois de 9 anos sem estudos formais. No fim de Janeiro pensei: falarei com o Marcão (meu chefe) e se ele liberar as férias para o final de fevereiro, vou fazer as Missões antes do início da Pós. Deu certo.

Data definida, comecei a Planejar de verdade.

Tenho um propósito, conhecer as Missões nos três países, Paraguai, Argentina e Brasil.

Estudei as rotas, uma dica aqui, outra ali e saiu o esboço:

- No Paraguai: Asunción, Encarnación (início do pedal), Trinidad, Jesus Tavarangue;
- Na Argentina: Posadas, San Ignácio Mini, Santa Ana, San Javier;
- No Brasil, Rio Grande do Sul: Porto Xavier, São Nicolau, daí pra frente, seguirei o Caminho das Missões, passando por São Luiz Gonzaga, São Lourenço, São Miguel até Santo Ângelo.




Previsão de sete à nove dias de pedal. Espero que a canela aguente...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ciclo Japi - Casa do Vizinho

Após o Caminho Português, fiz poucos Pedais para relatar.

Um recorde de pedal 151 km. Por sugestão do Gilmar, nós fomos e voltamos de Cajamar até Itú de Speed. Pedal duro, duríssimo, prá ir 3:45, prá voltar, 5:30 e muitas paradas. Mas o pedal foi loko. Muito loko! Cheguei até esquecer que estava pedalando.

O outro, foi quando fui acompanhar minha filha em uma Romaria de Cajamar à Pirapora do Bom Jesus. Ela e todo mundo de cavalo e eu era o único de bike. O quê que não fazemos por uma filha, rsss. Na volta, noturna, minha filha havia entregado o cavado ao dono e voltado de carona com uma amiginha e sua mãe. Eu teria que voltar no escuro. A lanterna arriando a bateria. Fui escoltado por uns bons quilômetros pela GM de Pirapora e depois meu amigo Fernando me deu carona na sua camionete, estava perigoso.

Após esse pedal fui visitar o médico, com umas dores na canela. Consultas. Exames. Consultas. Exames. Resultado: fratura por estresse, fruto de uma imprudente corrida (com stikes) na montanha. Fisioterapia. Quatro meses e meio parado: sem correr e sem pedalar. Consultas. Dez quilos a mais. Nesse período, vi filmes, andei de Jeep, fiz uma caminhada leve, mas nada, nada de pedal. Ai, vieram as festas de final de ano, manutenção na bike e finalmente voltei ao pedal, fiz uns dois dias bem leve.

Em meados de Janeiro, meu primo Evandro instigou:
- Pedal no sábado!? O Roger vai e Anderson também, ele comprou uma suspensão nova.
- Putz, será que aguento? - Respondi.
Fomos.

Sábado de manhã, 15/01, marcamos as 8:30, mas já era passada uma hora de atraso quando nos encontramos na Pracinha do Centro de Cajamar.
- Pra Onde?
- No caminho agente decide.
- Pelo asfalto ou pela terra?
- Vamos por enquanto pelo asfalto, que é mais leve.
- Blz.
Cinco quilometros de subidas depois, onde uma trilha corta o asfalto, e principalmente depois de esperar os batimentos cardíacos baixarem, de voltar a respirar normalmente e de beber aquele gole d´água:
- E ai, Placa?
- Putz, hoje não dá. - Respondi.
- Achei que agente ia pela Zona. - Brincou o Evandro. Zona é uma trilha muito punk que tem duas subidas de calar a boca, empurrar a bike, carregar a bike, puxar a bike, essas subidas, são a P... e da filha da P..., por isso o nome Zona.
- Vixi, quer me matar.
Ai o Roger sugeriu:
- Japi!?
- O meu, Japi é legal. Não é muito longo, nem tão difícil e é bonito.
- Japi.
- Japi.
Simbora.
Na verdade, naquele ponto o grande atrativo para o Japi era a longa descida, de asfalto novo, onde a MTB dá mais de 70 km por hora que nos atraiu. Mas ninguém confessou na hora.

Fomos para o Japi.

Sentir o vento no rosto novamente, não tem preço.

Esse Ciclo Japi, já foi catalogado pelo Cavalleri e os bikers normalmente deixam o Carro no Japiapé (Restaurante) ou no Bairro de Santa Clara (Jundiaí) para iniciar o pedal. Nós privilegiados, saímos da porta de casa.

Gostamos de fazer esse role no sentido horário.
Saindo de Cajamar-Centro, pedalamos sentido Ponunduva por 10 km de asdalto até que logo após o Japiapé e após correr dos cachorros, viramos numa estrada de terra à direita.
Passamos por um antigo assentamento dos Sem Terra e a direita avistamos a mata ciliar do rio que acompanha o lado de Cajamar da Serra do Japi.

Adiante, a estrada vira novamente a direita, subimos em meio a uns pares de belos e cheirosos pinheirais. Passamos pela antiga Cachoeira de Morumgaba (Fechada pelo Ministério Público). Subimos. Subimos em degraus até o quilômetro 20.
Ali, temos duas placas, ambas indicam Jundiaí. A da direita, mais rápida, só tem uma cachoeira e a subida é íngreme. A da esquerda, mais longa, com mais cachoeiras e com apenas uma subida punk.
- Pela esquerda.
Mais degraus de subidas.
Uma lua intensa de meio dia.
Sede.
Minha água já tinha acabado e não resisti, bebi água do rio mesmo.
Fizemos um lanche biker: banana, paçoca, pêra. Tudo misturado.
- Bora pedalar.
O Roger disparou na frente. Estava no apetite.
Pedalamos mais e no sopé da última grande subida, pensei em empurrar, quando parei e conversando com o Evandro e Anderson surgiu a música do Engenheiros:
"Não vim até aqui para desistir agora...
... se depender de mim eu vou até o fim"
- Bora. Bora. Sobe. Vai. Vai, C........ Uma pedra solta aqui, outra ali. Vai falta pouco.
Batimentos à mais de 190. Ufa... chegamos ao ápice do role. O Roger já estava lá de velho.
Um lugar com um banco de concreto ao lado direito da estrada.
Para trás (a esquerda) uma enorme subida já vencida. À frente uma fazenda de matacões e a alternativa de subir às antenas de TV e rádio (hoje não).
Como comadres. Conversamos, conversamos, conversamos.
Tiramos a única foto do role. (Que o Evandro está devendo) e descemos quase 5 km até o boteco de Santa Clara.
Outro lanche, esse nada saudável: salgados e Coca-Cola. Mais conversas e de barriga cheia partimos. Mais 14 km, de muitas subidas leves, mas subidas.

Foi um role de 47 km. Já conhedido por nós, no quintal de casa, aliás na casa do vizinho, mas é muito bom estar ali.

O outro pedal que haviamos feito juntos (os quatro) foi em Abril de 2010, Socorro. Mas isso é uma outra história.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Até o Fim da Terra e depois Las Médulas

Após uma longa pausa de oito meses e meio, volto a falar do Caminho Português.



Catedral de Santiago - Visão do Peregrino deitado no Obradoiro

Perambulei pelo Cascoviejo da cidade várias e várias vezes. Refiz a Chegada que fiz a primeira vez, não me lembrava de muita coisa, porque não estava muito ciente naquela época. Vi (admirei) a Catedral de vários ângulos e assisti 5 missas, três no mesmo dia, só para ver o Ritual do Botafumeiro. Para minha sorte nesse mesmo dia (24/05) era o dia da Batalha de Clavijo, que segundo a lenda, foi a primeira vez que Santiago interferiu pela Espanha. Valeu a espera e as missas repetitivas... os dois rituais juntos foi muito emocionante.



Réplica do Incensário Gigante - O Botafumeiro

No outro dia olhei a Praza do Obradoiro molhada da garoa fina e zarpei para Finisterre. Bem ao menos achei que iria até lá. Segui pelas rotas de peregrino a pé, bem mais bonita e difícil e nâo agüentei, parei em Vilaserio. A vila era séria mesmo, quase ninguém na rua, com apenas uma dezena de casas entre moinhos, parreiras e terra roxa.

No outro dia, segui pelo asfalto, um momento bem interessante foi quando do alto, há alguns quilômetros, vi o Mar. Parei um pouco em Cee e logo marchei até Finisterre o Final da Terra de outrora.



Marco Zero do Cabo de Finisterre

Fiquei no Albergue da Paz, coloquei a roupa na máquina, tomei bom banho, estendi a roupa e sentei para descansar um pouco. Fui fuçar nuns livros, revistas e brinquedos e achei um exemplar infantil do Jogo da Oca, objeto que pesquiso muito.

Faltava algo que desejei muito, que achei que seria no dia anterior e não foi possível. Fui até o Farol de Finisterre, onde no Ara Solis, o altar do Sol, tradicionalmente queima-se uma peça de roupa. A roupa que levei fez parte do meu primeiro Caminho de 2006, esteve diversas vezes comigo no Morro da Placa e estava nesse Caminho novamente, era uma Curtlo verde que queimei como se fosse um incenso suave.

No bar do Farol, pedi uma Tortilla Española (omelete com batatas e queijo) e conversando com a atendente a respeito do eminente por do sol ela me disse que fazia uns dez dias que não era possível vê-lo, pois o tempo estava fechado, mas naquele dia o tempo abriu. Pensei, que sorte a minha, se eu tivesse chegado ontem, não o veria.

Para muitos, não vale nada um por do sol, mas para mim, vale muito mais do que eu podia avaliar. Era o meu primeiro por do sol no mar. Havia bem umas vinte e poucas pessoas esperando o crepúsculo. Lembrei do filme Cidade do Anjos, quando aguardavam o canto dessa hora. Fui muito bonito e para minha surpresa, quando virei par ir embora, havia uma lua cheia maravilhosa do outro lado. Um dia perfeito. A noite sai pela cidade até encontrar um barzinho onde pessoas jovens cantavam músicas tradicionais da Galícia. "No hay quien pueda con la gente marinera..."



O Por do Sol no mar.



O Luar do outro lado.

Não tomei banho nas águas frias de Finisterre, apenas simbolicamente molhei as mãos. E após um dia inteiro de viagens de Autobus e escalas, retornei a Vilafranca del Bierzo em León.

Em Vilafranca, procurei o albergue que havia trabalhado voluntariamente em 2006, foi muito bom rever uma lenda viva do Caminho, o Jesús Jato. Esse albergue, o Ave Fénix, é todo especial. Já foi queimado por duas vezes e duas vezes reconstruído, pedra por pedra, e se o queimarem de novo, novamente será reconstruído, como a Fénix.

Que bom poder ficar de Hospitaleiro por mais 3 dias, dois dias e meio, na verdade.

Numa dessas noites, pude ver a Via Láctea, pena não ter equipamento para registrar.

De Vilafranca fui fazer a última grande etapa da viagem, conhecer Las Médulas.
Nos tempos do Império Romano, havia uma mina de ouro no Monte Medulo, que de tanto ouro que havia ali e de tanta ambição, foram construídos quilômetros e mais quilômetros de canais para lavrar o ouro dali, que acabou ocorrendo pelo menos duas catástrofes geográficas, influenciadas pelo Homem. Uma foi a criação de um Lago artificial e a outra foi o desabamento da montanha, criando assim: Las Médulas. Lá deixei a última pedra que o Mateus havia retirado dos morros de Cajamar (a terceira).



Las Médulas - León

Chegar até ali, não foi fácil, mas não cheguei sem a ajuda de muitas pessoas:
- Mãe - Dona Tila
- Almeida - Pai do Marcos Paulo
- Amanda Gregório - Nexans
- Anderson - Amigo e Mecânico
- Anderson Munhoz - Nexans
- Becão - Irmão
- Bruno Dolgoff - Nexans
- Bruno Gouveia - Nexans
- Dora - Irmã
- Edinho Domingues
- Ednilton - Nexans
- Eleni - Amiga
- Evandro - Primo/Amigo
- Gabriel - Sobrinho
- Gerson - Amigo
- Gustavo, Irmão da Ju Torezan
- Jorge Haddad Jr. .'. - Brother
- Josué - Nexans
- Juliane Pandolfo - Amiguíssima
- Juliana Torezan - Nexans
- Kátia Esteves - Momento Único
- Lia - Irmão
- Luci - Cunhada
- Luciano Cabeção - Físico
- Malu - Amiga peregrina
- Marcelo - Cunhado
- Marcos Paulo - Nexans
- Mateus - Filhão
- Nega - Irmã
- Nenê Gonçalves - Amigo da Familia
- Roberta - Sobrinha
- Roberto - Cunhado
- Roger - Amigo
- Sara - filhona (pela ausência física)
- Thiago - TSM Sports
- Vó Nadir
- Wilma - esposa do Evandro
- Zé Carlos - JCJ Modas
- entre muitos outros, que me ajudaram ao longo desse caminho.

Em especial gostaria de agradecer a uma alma boa, que não tive tempo de saber se quer o nome. Eu estava em Barajas, aeroporto de Madrid, restavam-me 25 euros, e a Ibéria que não me cobrou nada para levar a bike para Espanha, mas estava determinada a me fazer dormir no aeroporto, se eu não pagasse 75 euros para embarcá-la de volta ao Brasil. Tentei falar com alguém da empresa para pagar aqui no Brasil e nada, simplesmente fui ignorado e solicitado para não atrapalhar a fila.
Quase entrei em desespero.
Quando tive a Luz, de tirar o SD da máquina fotográfica e ir tentar vendê-la na fila. Fala com as pessoas na fila, explicando que me faltavam 50 euros. E que estava vendendo aquela máquina por esse preço... foi quando atrás de uma brasileira que eu conversava, uma espanhola abriu a carteira e me entregou os cinquenta euros. Quando fui lhe dar a máquina, ela recusou e disse: "um dia posso estar num outro país e posso precisar de ajuda e tenho certeza que serei ajudada." - Com o tempo apertado, lhe agradeci, muito, muito e sai correndo empurrando o carinho com a bike e as bagagens. Paguei a taxa e corri para o embarque. Fui o último a entrar no avião, sentei na poltrona, cantei o Hino Nacional bem baixinho e voltei, pois afinal no outro dia, tinha que voltar a trabalhar.
OBRIGADO ANÔNIMA ALMA BOA!

Valeu cada gota de suor.