segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Até o Fim da Terra e depois Las Médulas

Após uma longa pausa de oito meses e meio, volto a falar do Caminho Português.



Catedral de Santiago - Visão do Peregrino deitado no Obradoiro

Perambulei pelo Cascoviejo da cidade várias e várias vezes. Refiz a Chegada que fiz a primeira vez, não me lembrava de muita coisa, porque não estava muito ciente naquela época. Vi (admirei) a Catedral de vários ângulos e assisti 5 missas, três no mesmo dia, só para ver o Ritual do Botafumeiro. Para minha sorte nesse mesmo dia (24/05) era o dia da Batalha de Clavijo, que segundo a lenda, foi a primeira vez que Santiago interferiu pela Espanha. Valeu a espera e as missas repetitivas... os dois rituais juntos foi muito emocionante.



Réplica do Incensário Gigante - O Botafumeiro

No outro dia olhei a Praza do Obradoiro molhada da garoa fina e zarpei para Finisterre. Bem ao menos achei que iria até lá. Segui pelas rotas de peregrino a pé, bem mais bonita e difícil e nâo agüentei, parei em Vilaserio. A vila era séria mesmo, quase ninguém na rua, com apenas uma dezena de casas entre moinhos, parreiras e terra roxa.

No outro dia, segui pelo asfalto, um momento bem interessante foi quando do alto, há alguns quilômetros, vi o Mar. Parei um pouco em Cee e logo marchei até Finisterre o Final da Terra de outrora.



Marco Zero do Cabo de Finisterre

Fiquei no Albergue da Paz, coloquei a roupa na máquina, tomei bom banho, estendi a roupa e sentei para descansar um pouco. Fui fuçar nuns livros, revistas e brinquedos e achei um exemplar infantil do Jogo da Oca, objeto que pesquiso muito.

Faltava algo que desejei muito, que achei que seria no dia anterior e não foi possível. Fui até o Farol de Finisterre, onde no Ara Solis, o altar do Sol, tradicionalmente queima-se uma peça de roupa. A roupa que levei fez parte do meu primeiro Caminho de 2006, esteve diversas vezes comigo no Morro da Placa e estava nesse Caminho novamente, era uma Curtlo verde que queimei como se fosse um incenso suave.

No bar do Farol, pedi uma Tortilla Española (omelete com batatas e queijo) e conversando com a atendente a respeito do eminente por do sol ela me disse que fazia uns dez dias que não era possível vê-lo, pois o tempo estava fechado, mas naquele dia o tempo abriu. Pensei, que sorte a minha, se eu tivesse chegado ontem, não o veria.

Para muitos, não vale nada um por do sol, mas para mim, vale muito mais do que eu podia avaliar. Era o meu primeiro por do sol no mar. Havia bem umas vinte e poucas pessoas esperando o crepúsculo. Lembrei do filme Cidade do Anjos, quando aguardavam o canto dessa hora. Fui muito bonito e para minha surpresa, quando virei par ir embora, havia uma lua cheia maravilhosa do outro lado. Um dia perfeito. A noite sai pela cidade até encontrar um barzinho onde pessoas jovens cantavam músicas tradicionais da Galícia. "No hay quien pueda con la gente marinera..."



O Por do Sol no mar.



O Luar do outro lado.

Não tomei banho nas águas frias de Finisterre, apenas simbolicamente molhei as mãos. E após um dia inteiro de viagens de Autobus e escalas, retornei a Vilafranca del Bierzo em León.

Em Vilafranca, procurei o albergue que havia trabalhado voluntariamente em 2006, foi muito bom rever uma lenda viva do Caminho, o Jesús Jato. Esse albergue, o Ave Fénix, é todo especial. Já foi queimado por duas vezes e duas vezes reconstruído, pedra por pedra, e se o queimarem de novo, novamente será reconstruído, como a Fénix.

Que bom poder ficar de Hospitaleiro por mais 3 dias, dois dias e meio, na verdade.

Numa dessas noites, pude ver a Via Láctea, pena não ter equipamento para registrar.

De Vilafranca fui fazer a última grande etapa da viagem, conhecer Las Médulas.
Nos tempos do Império Romano, havia uma mina de ouro no Monte Medulo, que de tanto ouro que havia ali e de tanta ambição, foram construídos quilômetros e mais quilômetros de canais para lavrar o ouro dali, que acabou ocorrendo pelo menos duas catástrofes geográficas, influenciadas pelo Homem. Uma foi a criação de um Lago artificial e a outra foi o desabamento da montanha, criando assim: Las Médulas. Lá deixei a última pedra que o Mateus havia retirado dos morros de Cajamar (a terceira).



Las Médulas - León

Chegar até ali, não foi fácil, mas não cheguei sem a ajuda de muitas pessoas:
- Mãe - Dona Tila
- Almeida - Pai do Marcos Paulo
- Amanda Gregório - Nexans
- Anderson - Amigo e Mecânico
- Anderson Munhoz - Nexans
- Becão - Irmão
- Bruno Dolgoff - Nexans
- Bruno Gouveia - Nexans
- Dora - Irmã
- Edinho Domingues
- Ednilton - Nexans
- Eleni - Amiga
- Evandro - Primo/Amigo
- Gabriel - Sobrinho
- Gerson - Amigo
- Gustavo, Irmão da Ju Torezan
- Jorge Haddad Jr. .'. - Brother
- Josué - Nexans
- Juliane Pandolfo - Amiguíssima
- Juliana Torezan - Nexans
- Kátia Esteves - Momento Único
- Lia - Irmão
- Luci - Cunhada
- Luciano Cabeção - Físico
- Malu - Amiga peregrina
- Marcelo - Cunhado
- Marcos Paulo - Nexans
- Mateus - Filhão
- Nega - Irmã
- Nenê Gonçalves - Amigo da Familia
- Roberta - Sobrinha
- Roberto - Cunhado
- Roger - Amigo
- Sara - filhona (pela ausência física)
- Thiago - TSM Sports
- Vó Nadir
- Wilma - esposa do Evandro
- Zé Carlos - JCJ Modas
- entre muitos outros, que me ajudaram ao longo desse caminho.

Em especial gostaria de agradecer a uma alma boa, que não tive tempo de saber se quer o nome. Eu estava em Barajas, aeroporto de Madrid, restavam-me 25 euros, e a Ibéria que não me cobrou nada para levar a bike para Espanha, mas estava determinada a me fazer dormir no aeroporto, se eu não pagasse 75 euros para embarcá-la de volta ao Brasil. Tentei falar com alguém da empresa para pagar aqui no Brasil e nada, simplesmente fui ignorado e solicitado para não atrapalhar a fila.
Quase entrei em desespero.
Quando tive a Luz, de tirar o SD da máquina fotográfica e ir tentar vendê-la na fila. Fala com as pessoas na fila, explicando que me faltavam 50 euros. E que estava vendendo aquela máquina por esse preço... foi quando atrás de uma brasileira que eu conversava, uma espanhola abriu a carteira e me entregou os cinquenta euros. Quando fui lhe dar a máquina, ela recusou e disse: "um dia posso estar num outro país e posso precisar de ajuda e tenho certeza que serei ajudada." - Com o tempo apertado, lhe agradeci, muito, muito e sai correndo empurrando o carinho com a bike e as bagagens. Paguei a taxa e corri para o embarque. Fui o último a entrar no avião, sentei na poltrona, cantei o Hino Nacional bem baixinho e voltei, pois afinal no outro dia, tinha que voltar a trabalhar.
OBRIGADO ANÔNIMA ALMA BOA!

Valeu cada gota de suor.

Um comentário:

  1. Olá Cleber,

    Gostei muito do seu relato, esta é uma viagem que um dia ainda farei. Por enquanto, fico com as estórias de gente que como você foi e voltou com a mala cheia de coisas para contar.

    Abraço!

    Claudio Rinaldo
    http://cicloviadigital.blogspot.com/

    ResponderExcluir